V-Moraes

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A rosa de Hiroshima

(Composição: Vinícius de Moraes)

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

(Fonte: http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/sec_poesia_view.php?busca=A%20rosa%20de%20Hiroxima&acao=buscar&id=188&id_tipo=7&back_page=1)

O conteúdo desse poema diz respeito às consequências do lançamento da bomba atômica sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, que eram na época cidades importantes economicamente e militarmente.
O autor promove uma visão humanitária sobre os saldos do bombardeamento, no qual várias pessoas morreram e outras sofrem até hoje com a radiação que foi emitida. Muitas pessoas que tinham uma vida toda pela frente tiveram seus sonhos interrompidos por nada, o rumo de suas vidas foi alterado. Algumas crianças que sobreviveram perderam suas famílias, sem falar nas sequelas físicas.
A rosa representa a vida que restou em Hiroshima, que é retratada como algo frágil, porém vitorioso.
A anti-rosa é justamente a bomba lançada para destruir a rosa, a vida, um elemento não-vivo que tem apenas o (des)prazer de acabar com o que foi feito.
Em termos gerais, o poema é uma manifestação pacifista e antinuclear, lançada em plena ditadura militar no Brasil.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Amor em paz

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

(fonte http://www.pensador.info/p/poemas_vinicius_de_moraes/2/)

Nesse poema, se fala mais uma vez do amor. Nele o autor fala que já sofreu demais por amar muito na vida. Ele diz o quanto o amor nos faz sofrer. Mesmo o autor falando o quanto o amor nos faz sofrer, no fim do poema ele fala que com a chegada de um novo amor em sua vida todo aquele sentimento bom resurge e ele não quer perdê-lo para não sofrer novamente. Concluímos, de acordo com o autor, que o amor nos faz sentir muito bem mas quando ele se vai é o sentimento mais triste que alguém pode sentir.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pela luz dos olhos teus - vídeo



Nesse vídeo, podemos ver a afinidade de Vinícius com grandes nomes da música, como no caso Tom Jobim.



Obs.: Este vídeo é um trecho do documentário "Vinícius".

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais larirurá

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se pode achar
Que a luz dos olhos meus
Precisa se casar

(Fonte: http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/87180/)

Nesse poema, o autor fala sobre o amor pela pessoa a quem se dirige o poema, sempre utilizando para se referir a relação entre os dois por meio do olhar. É uma forma singela e ao mesmo tempo muito bonita de demosntrar a relação entre os dois, começando somente pela visão um nos olhos do outro que já traz uma certa alegria, ao mesmo tempo que causa um certo nervosismo por estar próximo da pessoa amada. Esse tipo de sentimento somada ao "jogo" feito de um ignorar o outro apenas para provocar, e a impulsividade do eu-lírico em querer logo a pessoa amada, mostra que esse amor pode se tratar de um amor entre jovens ou de um amor tão puro que chega a se assemelhar a isso. E por fim o poema é finalizado com a conclusão do eu-lírico de que se encontra realmente apaixonado e que pretende se casar com seu amor.

O relógio - vídeo

domingo, 27 de setembro de 2009

A Berlim

(Composição: Vinícius de Moraes)

Vós os vereis surgir da aurora mansa
Firmes na marcha e uníssonos no brado
Os heróicos demônios da vingança
Que vos perseguem desde Stalingrado.

As mãos queimadas do fuzil candente
As vestes podres de granizo e lama
Vós os vereis surgir subitamente
Aos heróicos prosélitos do Drama.

De início mancha tateante e informe
Crescendo às sombras da manhã exangue

Logo o vereis se erguer, o Russo enorme
Sob um sol rubro como um punho em sangue.

E ao seu avanço há de ruir a Porta
De Brandemburgo, e hão de calar os cães
E então hás de escutar, Cidade Morta
O silêncio das vozes alemãs.

(Fonte: http://viniciusdemoraes.com.br/poesia/index.php)

Esse poema é bem interessante, pois retrata a queda do nazismo alemão e ascensão do socialismo da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). O poema foi escrito em 03/02/1945, momento em que estava ocorrendo a Batalha de Berlim. Portanto, o poema demonstra o sentimento socialista do autor, explicitado, principalmente, nos versos das primeira e terceira estrofes, nos quais ele exalta o exército russo. Isso reforça que Vinícius não era um homem despreocupado com as questões políticas e sociais de sua época.

O poema mostra a chegada do exército russo a Berlim, que antes era aparentemente o perdedor da guerra ("As mãos queimadas do fuzil cadente/As vestes podres de granizo e lama/De início mancha tateante e informe"), porém conseguiu "dar a volta por cima" e agora está vantagem em relação ao alemão, invadindo Berlim através do Portão de Brandemburgo, símbolo da cidade, e derrotando o exército alemão ("E ao seu avanço há de ruir a Porta/De Brandemburgo, e hão de calar os cães/E então hás de escutar, Cidade Morta/O silêncio das vozes alemãs").

Soneto de Aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece....
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

(Fonte: http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/sec_poesia_view.php?busca=Soneto%20de%20anivers%E1rio&acao=buscar&id=304&id_tipo=1&back_page=1)

Nesse poema, mais uma vez dirigido a uma mulher, o autor retrata a passagem do tempo sobre as pessoas, o quanto esse processo desgasta a pessoa de forma interna e externa, os sonhos da adolescencia que se revelam impossíveis na realidade, causando desilusões, mas também as compensações, tanto relacionadas a experiencia de vida, como relacionado aos momentos bons que temos ao longo dos anos. No final ele ainda conforta a amiga, pois apesar de tudo que se passa, o amor deles é algo que não envelhece.

O relógio

Composição: Vinicius de Moraes / Paulo Soledade

Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia

(Fonte: http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/87218/)

Nesse poema, o que mais se destaca é a musicalidade dos versos, dados tanto pela utilização da onomatopéia Tic-tac, quanto pela repetição de palavras no incício de versos (anáfora) (Não atrasa / Não demora) e aproximação de termos contrários (antítese) (Dia e Noite / Noite e Dia). Essa musicalidade foi aproveitada para a utilização do poema no musical a Arca de Noé.


Teu Nome

Teu nome, Maria Lúcia
Tem qualquer coisa que afaga
Como uma lua macia
Brilhando à flor de uma vaga.
Parece um mar que marulha
De manso sobre uma praia
Tem o palor que irradia
A estrela quando desmaia.
É um doce nome de filha
É um belo nome de amada
Lembra um pedaço de ilha
Surgindo de madrugada.
Tem um cheirinho de murta
E é suave como a pelúcia
É acorde que nunca finda
É coisa por demais linda
Teu nome, Maria Lúcia...

(Fonte: http://br.geocities.com/ahotsite/teu_nome.htm)

Nesse belo poema de Vinícius, podemos ver o amor com o qual ele retrata Maria Lúcia, algo que não poderia deixar de acontecer, já que acredita-se que o autor chegou a ter nove mulheres. Nesse poema podemos também destacar a utilização de ritmo e figuras de linguagem, como a comparação, na busca de retratar essa pessoa tão querida de uma forma mais graciosa, de forma a resultar em uma bela homenagem, mesmo se utilizando por base apenas o nome dela.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vídeo - Aquarela

Aquarela

(Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes)

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul

Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar

Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (e descolorirá)


O poema "Aquarela" é uma parceria de Vinicius de Moraes e Toquinho, que mais tarde virou música assim como vários outros poemas dos dois artistas (A Bailarina, O Caderno, entre outros...) e relata a infância de todos nós, marcada principalmente pela imaginação e nos passa várias mensagens.

Ele nos faz viajar no tempo e lembra de como conseguíamos criar, se divertir, fantasiar e buscar novas coisas e experiências com a imaginação a partir de dois riscos ou um pingo de tinta no azul de um papel. Transmite de forma metafórica que cada problema que temos somos capazes de superá-los, pois se pensarmos um pouco encontraremos uma solução e tudo se resolverá.

Outro lado crítico do poema é que ele lembra as crianças de que elas nunca devem deixar de sonhar e imaginar enquanto podem e que devem manter essa beleza da infância sempre em seus corações, o que se torna muito significativo nos tempos atuais em que vemos crianças passando fome na rua, sem escolaridade, que não tem amor dos pais, que está roubando, se drogando ou até se prostituindo para tentar conseguir algum dinheiro e esse não é o que iríamos querer para nossas crianças ou para nós mesmos. Logo, vemos que nenhuma criança merece passar por isso, que elas merecem carinho, amor, uma família.

Nas últimas estrofes do poema Vinicius já relata a passagem da infância para a adolescência e para a fase adulta, em que a criança amadurece e começa a encarar seus próprios problemas, a fazer suas escolhas e acaba deixando para trás aquela fantasia, os sonhos e brincadeiras que tinha e que a partir deste ponto o futuro é incerto e algo que muda constantemente, então ele compara a vida com a aquarela no poema, que um dia acabará assim como a aquarela descolorirá.

Assim, vimos que "Aquarela" é um poema feito para todas as idades, que nos marca de várias formas e que com certeza, por mais que o tempo passe, nunca será esquecido,assim como o seus dois grandes autores.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O poeta da paixão.


"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."
Vinicius de Moraes




Vinicius de Moraes
nasceu em 19 de outubro de 1913. Natural do Rio de Janeiro - RJ, Vinicius faleceu aos 66 anos em 9 de julho de 1980, deixando obras que enfrentam o lado mais obscuro do homem. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador de uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador.
Seu acervo de obras é vasto, passando pela literatura, música, cinema e teatro. No campo musical Vinicius formou parcerias com Baden Powell, Carlos Lyra, e as mais conhecidas, com Tom Jobim e Toquinho.
Nascido Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes aos nove anos de idade parece que pressente o poeta: vai, com a irmã Lygia ao cartório na Rua São José, centro do Rio, e altera seu nome para Vinicius de Moraes.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos.
Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Ainda em 1933 publicou seu primeiro livro de poesia, O caminho para a Disntância.

Em 1938 viajou para a Inglaterra, para estudar Língua e Literatura Inglesa. De volta ao Brasil, ingressou na carreira diplomática; serviu nos Estados Unidos, na França e no Uruguai. Em 1956 iniciou parceria com Tom Jobim, que fez as músicas para sua peça Orfeu da Conceição. A carreira de diplomata encerrou-se no final de 1968.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 50 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria.
Em 1965 ganhou primeiro e segundo lugares no Festival de Música Popular da TV Excelsior, com as canções Arrastão, parceria com Edu Lobo, e Canção do Amor que não Vem, parceria com Baden Powell.
Vinícius de Moraes, pertencente à segunda geração do Modernismo, é um dos poetas mais populares da Literatura Brasileira. Suas canções alcançaram grande êxito de público, como Garota de Ipanema, a música brasileira mais executada no mundo.
Para Otto Lara Rezende, "depois do Vinicius musical, foi o Vinicius cronista quem mais depressa chegou ao coração do grande público". Sua obra poética também teve e continua tendo muito sucesso; principalmente poemas como Soneto de Fidelidade.
Nos anos 70, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreria pela manhã.