V-Moraes

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vídeo - Aquarela

Aquarela

(Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes)

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul

Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar

Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (e descolorirá)


O poema "Aquarela" é uma parceria de Vinicius de Moraes e Toquinho, que mais tarde virou música assim como vários outros poemas dos dois artistas (A Bailarina, O Caderno, entre outros...) e relata a infância de todos nós, marcada principalmente pela imaginação e nos passa várias mensagens.

Ele nos faz viajar no tempo e lembra de como conseguíamos criar, se divertir, fantasiar e buscar novas coisas e experiências com a imaginação a partir de dois riscos ou um pingo de tinta no azul de um papel. Transmite de forma metafórica que cada problema que temos somos capazes de superá-los, pois se pensarmos um pouco encontraremos uma solução e tudo se resolverá.

Outro lado crítico do poema é que ele lembra as crianças de que elas nunca devem deixar de sonhar e imaginar enquanto podem e que devem manter essa beleza da infância sempre em seus corações, o que se torna muito significativo nos tempos atuais em que vemos crianças passando fome na rua, sem escolaridade, que não tem amor dos pais, que está roubando, se drogando ou até se prostituindo para tentar conseguir algum dinheiro e esse não é o que iríamos querer para nossas crianças ou para nós mesmos. Logo, vemos que nenhuma criança merece passar por isso, que elas merecem carinho, amor, uma família.

Nas últimas estrofes do poema Vinicius já relata a passagem da infância para a adolescência e para a fase adulta, em que a criança amadurece e começa a encarar seus próprios problemas, a fazer suas escolhas e acaba deixando para trás aquela fantasia, os sonhos e brincadeiras que tinha e que a partir deste ponto o futuro é incerto e algo que muda constantemente, então ele compara a vida com a aquarela no poema, que um dia acabará assim como a aquarela descolorirá.

Assim, vimos que "Aquarela" é um poema feito para todas as idades, que nos marca de várias formas e que com certeza, por mais que o tempo passe, nunca será esquecido,assim como o seus dois grandes autores.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O poeta da paixão.


"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."
Vinicius de Moraes




Vinicius de Moraes
nasceu em 19 de outubro de 1913. Natural do Rio de Janeiro - RJ, Vinicius faleceu aos 66 anos em 9 de julho de 1980, deixando obras que enfrentam o lado mais obscuro do homem. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador de uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador.
Seu acervo de obras é vasto, passando pela literatura, música, cinema e teatro. No campo musical Vinicius formou parcerias com Baden Powell, Carlos Lyra, e as mais conhecidas, com Tom Jobim e Toquinho.
Nascido Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes aos nove anos de idade parece que pressente o poeta: vai, com a irmã Lygia ao cartório na Rua São José, centro do Rio, e altera seu nome para Vinicius de Moraes.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos.
Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Ainda em 1933 publicou seu primeiro livro de poesia, O caminho para a Disntância.

Em 1938 viajou para a Inglaterra, para estudar Língua e Literatura Inglesa. De volta ao Brasil, ingressou na carreira diplomática; serviu nos Estados Unidos, na França e no Uruguai. Em 1956 iniciou parceria com Tom Jobim, que fez as músicas para sua peça Orfeu da Conceição. A carreira de diplomata encerrou-se no final de 1968.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 50 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria.
Em 1965 ganhou primeiro e segundo lugares no Festival de Música Popular da TV Excelsior, com as canções Arrastão, parceria com Edu Lobo, e Canção do Amor que não Vem, parceria com Baden Powell.
Vinícius de Moraes, pertencente à segunda geração do Modernismo, é um dos poetas mais populares da Literatura Brasileira. Suas canções alcançaram grande êxito de público, como Garota de Ipanema, a música brasileira mais executada no mundo.
Para Otto Lara Rezende, "depois do Vinicius musical, foi o Vinicius cronista quem mais depressa chegou ao coração do grande público". Sua obra poética também teve e continua tendo muito sucesso; principalmente poemas como Soneto de Fidelidade.
Nos anos 70, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreria pela manhã.